A ideia de escrever uma história em quadrinhos autoral foi algo que me acompanhou desde sempre, quando eu dobrava folhas de sulfite e desenhava histórias com meus amigos da rua interpretando super heróis ou, na minha preferida, com uma turminha formada pelos bichinhos de estimação desses mesmo amigos. A possibilidade de poder contar uma história do meu jeito e (teoricamente) com baixo custo foi algo que sempre me encantou nas HQs.
Passando pela adolescência, quando normalmente esses sonhos acabam ficando um pouco esquecidos, foi na hora de escolher o curso para o vestibular que me deparei novamente com este universo. No antigo e talvez pouco popular hoje em dia “Guia do Estudante Abril”, onde os principais cursos das principais universidades do país eram descritos, avaliados e destrinchados para os vestibulandos perdidos (como era o meu caso), foi uma baita surpresa quando eu encontrei um curso que tinha em sua grade a disciplina “História em Quadrinhos”. Não tinha dúvida que esse era o escolhido! Acabei optando pelo tal “Desenho Industrial com Habilitação em Programação Visual”, que hoje em dia já foi devidamente rebatizado como “Design Gráfico”, quase que exclusivamente por causa dessa matéria, que no fim das contas acabou sendo um tanto frustrante… (mas isso é uma outra história).
Formado, acabei seguindo o caminho da publicidade. Isso foi em 2006 e na época até que consegui publicar alguma coisa como quadrinista, mas para campanhas publicitárias e coisas do gênero. Mais uma vez o sonho de ilustrar as minhas histórias acabou ficando de lado.
Essa fase durou até 2013, quando eu conheci o meu grande amigo e parceiro Carlos Eduardo Marques, roteirista e membro do recém criado “Hquê? – Grupo de Publicação de Quadrinhos Independentes”. Esse grupo havia se formado em Araraquara e contava com artistas de todo o interior de SP. Foi um momento catártico pra mim descobrir que ali, literalmente do meu lado (o Carlão morava duas casas pra baixo da minha) tinha gente publicando quadrinhos!
Nesse momento percebi que meu sonho era justamente esse: contar as minhas histórias. E o meio que eu tinha pra fazer isso eram os meus desenhos. Ser um ilustrador não fazia sentido nenhum se não fosse dessa forma. Desenhar logotipos podia pagar as contas, mas não satisfazia a alma.
Então, fui convidado pra fazer parte do coletivo “Hquê?”, onde publiquei em três edições, duas dessas sendo indicadas para o troféu HQMix. Conheci a cena de quadrinhos nacional que pra minha surpresa borbulhava de novos talentos e atingia um status de produção que talvez nunca tivesse vislumbrado antes. Mas o mais importante de tudo é que fiz amigos com quem eu aprendo e me inspiro todos os dias.
Depois disso, a “Hquê?” cumpriu seu ciclo e se dissolveu em 2016. Mas não sem deixar marcas permanentes na minha vida. A mais palpável delas foi o novo grupo de publicação que formamos, Carlão, Henrique Mathias, e eu: o “Quadrinhos Fora da Panela”, onde publicamos a revista “Marmita: Alimento pra Viagem”, com a proposta de ser um celeiro para novos quadrinistas do interior que muitas vezes estão escondidos, longe demais das capitais.
E assim chegamos aqui. Você deve estar perguntando “Tá, mas e o Coleira?”. Calma, que eu já chego lá, rs 😉
Gabe Teixeira